Constatação faz parte do Painel de Diversidade nas Eleições 2022, que analisou as bases de dados de registros das candidaturas disponibilizadas pelo TSE na terça-feira (16)
A Eight Analytics, consultoria de inteligência de dados, elaborou o “Painel de Diversidade nas Eleições 2022”, uma análise baseada no cruzamento de dados referentes aos candidatos que disputarão as eleições de outubro. O levantamento foi elaborado com o objetivo de contribuir para a geração de insights sobre o quadro eleitoral, incluindo filtros sobre gênero, raça, geolocalização, posicionamento político e ideológico, além de informações de patrimônio declarado de cada um dos mais de 28.174 candidatos registrados que disputarão as vagas nas Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados, Senado, governos estaduais e presidência da República.
“O cruzamento de informações é uma alternativa simples e que permite à sociedade identificar características sobre grupos de candidatos, além de uma investigação profunda sobre a diversidade no quadro eleitoral deste ano”, explica Leandro Bortolassi, sócio-fundador da Eight Analytics. Para o cientista de dados, é importante que o eleitor entenda se o debate em torno de assuntos relacionados a gênero e raça estão refletidos no ambiente eleitoral. “Embora a lupa do eleitor e de boa parte da opinião pública esteja muito concentrada na disputa presidencial, é essencial que conheçamos a composição que irá disputar os cinco cargos eletivos”, completa.
A discussão e adoção sobre políticas de inclusão, diversidade e equidade no mercado ganhou novas dimensões nos dois últimos anos sob influência direta dos efeitos da pandemia de Covid-19. Naturalmente, o espectro político deveria refletir a sociedade. “Embora haja avanços, principalmente em termos de aumento de participação feminina nas eleições, nas entrelinhas, ou no cruzamento de dados, é possível observar que a desigualdade ainda é latente no campo politico”, conclui Bortolassi.
O Painel da Diversidade nas Eleições 2022 utiliza dados públicos, disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e segue a fundamentação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). No processo de consolidação de informações de diferentes repositórios, a Eight Analytics aplicou técnicas de modelagem e tratamento amplamente utilizados na área de Ciência de Dados por meio de linguagem de programação específica, como Python. Para a visualização, foi desenvolvido um painel utilizando plataforma de código aberto que permite a interação do usuário por meio da aplicação de técnicas de Business Intelligence (BI).
Perfil médio
Utilizando técnica para construção de personas a partir do cruzamento das informações de registro disponibilizadas pelo TSE, o perfil médio do candidato das próximas eleições é formado pelas seguintes características demográficas, socioeconômicas e psicográficas:
- Gênero: homem
- Idade média: 52 anos
- Raça: branco
- Estado civil: casado
- Grau de instrução: superior completo
- Patrimônio: R$ 277 mil
- Ocupação: Empresário
- Espectro político: direita
- Espectro ideológico: conservador
- Localização geográfica: sudeste
Distribuição por gênero
Com 28,5% de candidaturas ocupadas por mulheres, a faixa está bem abaixo da proporção de 50,8% da população feminina brasileira estimado pelo Departamento de Relações Econômicas e Sociais das Nações Unidas.
Na distribuição por legendas, o volume segue padrão semelhante como mostra o gráfico a seguir:
Distribuição por raça
Embora a população autodeclarada branca seja de 43% (Pnad Contínua, divulgada em julho/2022), no mapa eleitoral, 57,5% das vagas são ocupadas por candidatos autodeclarados brancos. Já os pardos, cuja fatia estimada pela Pnad é de 43% da população, ocupam pouco mais de 30% do quadro de candidatos. O número de candidatos autodeclarados pretos apresenta proporcionalidade com relação à estimativa da Pnad, com 10,7% e 9,1%, respectivamente.
Estado civil
Em linhas gerais, sem filtragem por nichos, candidatos casados representam pouco mais de 59% do quadro, seguido por 25% de solteiros e 13% de divorciados.
Grau de instrução
Dos 8.614 candidatos aos cargos disputados, 68% declaram ensino superior completo, enquanto 18% têm nível de instrução de ensino médio completo. Em terceiro estão os candidatos que declaram ensino superior incompleto, totalizando 7,9%. Já candidatos que apenas leem e escrevem representam 0,4% do total.
Espectro político e ideológico
O gráfico de dispersão mostra a relação entre os espectros político e ideológico combinados com a média patrimonial dos candidatos. A informação foi obtida a partir da autodeclaração dos estatutos de cada legenda e cruzada com a base de dados do TSE.
Desta forma, observa-se a predominância (9.144) de candidatos no espectro político de direita, com ideologia conservadora, cujo patrimônio médio é de R$ 252 mil. No segundo bloco, há um grupo formado por 1.382 candidatos de centro esquerda, com visão progressista e declaração de bens com valor médio de R$ 178 mil.
Já os 2.557 candidatos da direita liberal são os que acumulam maior patrimônio, com média de R$ 403 mil. Em contraponto, os candidatos de esquerda com viés socialista (675) são os que declaram menor patrimônio, com média de R$ 105 mil.
Distribuição patrimonial por localização
Com 3.585 mil candidatos, o estado de São Paulo se destaca pela concentração de patrimônio acumulado, com média de R$ 167,7 mil, seguido por Rio de Janeiro, com 2.772 candidatos e patrimônio médio de R$ 181 mil. Minas Gerais aparece em terceiro, com 2.502 e patrimônio médio de R$ 255 mil.
Políticos de Centro são os mais ricos
A base de candidatos com patrimônio declarado acima de R$ 1 milhão é composta por R$ 86% de homens, 71% brancos e 79% com ensino superior completo. No espectro político e ideológico, a maioria desses candidatos 423 estão no eixo de direita conservadora, com patrimônio médio de R$ 4,5 milhões, seguidos por 232 candidatos liberais de centro direita, com média patrimonial de R$ 4,6 milhões. Em terceiro, estão 222 candidatos de direita.com viés liberal, com patrimônio médio de R$ 7,25 milhões.
No espectro oposto, aparecem 8 candidatos de esquerda socialista com patrimônio de R$ 1,8 milhão. Já entre os 46 candidatos progressistas de partidos de esquerda, o patrimônio médio é de R$ 2,4 milhões.
Candidatos de partidos de centro (270) são os que acumulam maior patrimônio médio, com média de R$ 6,4 milhões.
Patrimônio de homens brancos é 244% maior do que de mulheres pretas
A condição socioeconômica dos candidatos muda de acordo com características como gênero e raça. De acordo com o Mapa de Diversidade Eleitoral, candidatos homens e autodeclarados brancos têm patrimônio médio de R$ 316 mil, enquanto que entre mulheres autodeclaradas pretas, o valor médio é de R$ 91,7 mil, quase quatro vezes menor.
A diferença também é acentuada na comparação entre homens brancos e pretos, cujo patrimônio médio é de R$ 183 mil, diferença de 73%.
Grupos políticos
Na análise de grupos políticos, a predominância de homens entre conservadores é de 67%, sendo 55% casados e 53% com nível superior completo. Quando analisada a geolocalização associada ao patrimônio, observa-se maior predominância desse grupo nas regiões Centro-Oeste, sobretudo no Distrito Federal.
A distribuição por geolocalização combinada com o patrimônio mostra uma concentração desse grupo na região Centro Oeste (GO e DF), Sul (RS), Sudeste (MG e RJ) e Norte (RO e PA). A declaração de bens desse grupo está na média de R$ 298,5 mil.
Já no espectro político inverso, candidatos de esquerda do gênero masculino representam 61%. A distribuição de raça no espectro é composta por 46,4% de brancos, 27% de pardos e 24% de pretos. Metade (49,8%) são casados, enquanto solteiros representam 40%. Em termos de instrução, 64% dos candidatos de esquerda declaram nível superior completo.
A visão sobre o mapa de geolocalização combinado com patrimônio médio mostra uma distribuição mais homogênea do grupo nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. No entanto, o valor médio do patrimônio despenca para R$ 130 mil.
Brancos representam 60% dos candidatos de Direita
Brancos representam 60% dos candidatos de Direita
Na análise de grupos políticos, a predominância de homens entre conservadores é de 73%, sendo 60% casados e 67,5% com nível superior completo. Quando analisada a geolocalização associada ao patrimônio, observa-se maior predominância desse grupo nas regiões Sul, Sudeste
A distribuição por geolocalização combinada com o patrimônio mostra uma concentração desse grupo nos estados do Sudeste (SP e MG), Sul (RS e PR) e Centro-Oeste (MS). A declaração de bens desse grupo está na média de R$ 319 mil.
Já no espectro político inverso, candidatos de esquerda do gênero masculino representam 66,4%. A distribuição de raça no espectro é composta por 49,6% de brancos, 25% de pretos e 23% de pardos. Metade do grupo (49,8%) é casado, enquanto candidatos solteiros representam 34%. Em termos de instrução, 78% dos candidatos de esquerda têm nível superior completo.
A visão sobre o mapa de geolocalização combinado com patrimônio médio mostra uma distribuição mais homogênea do grupo nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. No entanto, o valor médio do patrimônio despenca para R$ 106,8 mil.
Candidatos à reeleição
Dos 416 candidatos que já ocupam posição de deputado e disputam uma vaga no Congresso Federal, 85% são homens, sendo 72% brancos e casados e 82% declaram ter ensino superior completo. No espectro político, esses candidatos estão divididos com a seguinte composição:
- Direita: 150
- Centro Direita: 78
- Centro: 76
- Esquerda: 61
- Centro Esquerda: 53
Candidatos a suplentes acumulam maior patrimônio
A disputa para a posição de 1º e 2º suplentes traz candidatos com faixa etária mais elevada, com média de 57 anos. O grupo é formado por maioria predominantemente masculina (70%) e branca (55%), sendo 62% casados e 66% com nível superior completo. Sob a ótica socioeconômica, a maioria desses candidatos se autodeclara empresário, e tem patrimônio médio de R$ 1,3,milhão.
No espectro político, candidatos a suplentes de partidos direita com viés conservador somam 130, cujo patrimônio médio é de R$ 751 mil. Na sequência, estão candidatos de esquerda progressista e com viés socialista, com 69 cada, e patrimônio médio de R$ 169 mil e R$ 104 mil, respectivamente. seguido pelos de esquerda com viés progressista e os de viés socialista, ambos com 69 candidatos. , seguidos por 17 candidatos de direita liberal, cujo patrimônio médio é de R$ 6,6 milhões.